Relicário para repousar a memória de uma fronteira
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Imagem de um freixo recortado no horizonte da memória
Ano 2024
Materiais Madeira de freixo, contraplacado e acrílico
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Madeiras de freixo, carvalho e contraplacado de faia com pintura
Dimensões 110x150x30 cm
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55x160x6cm
A vida de um freixo desenvolvida na margem de um ribeiro testemunho e registo de ancestral separação de terrenos, termina, provavelmente para ceder o lugar à força de abertura de outros caminhos, outros interesses, colhida e transportada do seu habitat natural para uma qualquer serração. A memória mantem-se visível pelas rugas do crescimento ou vestígios de contactos e pela forte presença na oficina, impondo processos, indicando trilhos que o escultor percorre, na vontade de dominar agora a massa só aparentemente inerte. O recurso também a matéria transformada industrialmente acentua a morte da árvore e revela a ortogonalidade do processo. A geometria secreta das coisas orgânicas e a organização sistemática da máquina revelam a dialética patente na montagem.
O freixo, árvore popular na mitologia dos povos da Europa do norte, cósmica - Yggdrasill – o topo ascende ao paraíso e seus ramos estendem-se por toda a superfície, fundindo raízes no coração da terra fresca.
Entre os Celtas, tem presente a magia que invoca a chuva e seus ramos duros, mas elásticos, pesquisam água.
Com propriedades medicinais, madeira resistente e musicali- dade intrínseca, esta oleaceae está em vias de extinção. Conta-se que um rei, adormecendo debaixo de um imponente freixo, este lhe indicou no sonho, o futuro do reino.
Neste painel evoca-se a memória de um freixo, a expressão carcomida do seu tronco simulando o solo que tanto procura e a sua longa vida, numa imagem gráfica no recorte da paisagem.
“Ora saiu da terra e foi navio, lutou c'o mar, lutou c'o vento em guerra:” “Ei-lo que chora em vão seu desvario. De longe a vê, chegar deseja a terra: Não lho consente o mar, nem em pedaços.”*