Uma mesa é um objecto emblemático de design, um equipamento que usamos todos os dia, preenchendo, de uma forma inerte mas com uma personalidade influente, o nosso espaço envolvente. Sempre me interessou como objecto escultórico pela simbologia que transporta na evocação de locais e ambientes onde os rituais se efetivam. É um ponto de comunicação, apresentação e discussão de diretrizes e projetos, de encontros e desencontros e, deste modo, elemento privilegiado para a troca de ideias. Pode ser também a bancada de reunião, espécie de altar onde celebramos os mais variados cultos que a vida proporciona. Sendo zona de confluência de sentidos e caminhos, de fronteira e limite, ela é, assim, a zona de tangência, berço da alquimia que tanto me interessa. Responde também, na sua configuração, a uma questão levantada pelos escultores modernos que preconizaram a anulação do pedestal. Estas mesas, não só o anula como o afirma, substituindo o pedestal num conceito que o integra e faz participar no objeto fulcral da escultura. A sua relação estreita com a peça de escultura de pequeno formato, pode autonomizá-la e dar-lhe outra dimensão prolongando-a para o chão. A sequência do trabalho que desenvolvi nos últimos cinco anos, pareceu-me natural enfatizar as conversas de aproximação e afastamento que tenho tido com os meus escultores de referência, trocar com eles os olhares, num local de convívio que sempre prezei, em cima de uma mesa. Carlos Marques 2016