Memória de uma dieta Em Junho do ano de 2009 iniciei uma dieta na qual teria que, para além de outros procedi-mentos, ingerir pelo menos uma garrafa de litro e meio de água por dia. Realizei a dieta prescrita até ao verão do ano seguinte, altura em que a suspendi por motivo de férias. Entre Março do ano de 2005 e o início do verão de 2009, foi feita a construção do meu novo espaço oficinal, sendo então importante proceder à instalação dos equipamentos que transitavam do anterior atelier e a aquisição de novas maquinarias, de modo a permitir a opera-clonalidade conveniente. Do mesmo modo seria preciso adquirir mobiliário para equipar um pequeno apartamento anexo e terminar por menores de instalação como sejam estantes de armazém e bancadas de trabalho. Este processo fol concluído apenas ao fim de um ano, arrastando-se, por motivo de alguns condicionalismos referentes a vistorias e licenças, até ao início do Verão de 2010, altura em que ficou definitivamente concluída a empritada bem como os acessos e o espaço circundan- Ora, verificamos que a dieta que tinha vindo a realizar durante o ano de 2009 e fol interrompida na altura do verão e por motivo de férias, coincidiu precisamente com a data em que foi iniciada a utilização do novo espaço de atelier. Acontece também que, apesar de ter suspendido a dieta, não procedi do mesmo modo relativamente ao sistema da ingestão diária de água, tendo recomeçado esse processo após o período de férias. Como estava a iniciar um novo ciclo no que respeitava a condições de trabalho, pensei enquadrar paralelamente a utilização dos novos equipamentos e espaço com outro novo ciclo no que respeitava a utilização de garrafas de plástico com capacidade para 1,5litros de água. A utilização diária desse contentor, sem estar integrado numa determinada dieta nem condicionada a ela, corresponderia a uma nova forma de estar e sentir, fazendo parte integrante do meu dia a dia, como que de um novo braço ou de uma ferramenta mais se tratasse. A aglutinação desse processo diário com a utilização, também diária, do novo espaço onde me iria mover, dessa nova pele e desses novos fluidos com que iria viver, pareceu-me perti- nente. Iniciei assim um processo de sistematização na contagem, identificação e armazenamento das garrafas utilizadas desde então, inícios de Outono de 2010. Passados três anos, após o período de instalação, adaptação e utilização do novo atelier, da consolidação de uma vivência já estabelecida, sinto vontade de interromper também, agora, pelo menos o registo do processo de ingestão da água, já que este continuará mas sem se saber como. O produto desta sistematização está patente na interpretação cilindrica em vidro acrílico com 60 centímetros de diámetro e 2,20 metros de altura, que tem como conteúdo as garrafas comprimidas depois de usadas. Uma espécie de garrafa continente para a totalidade das garrafas que foram o recipiente da água ingerida nesses três anos de utilização, dela própria que alimenta o corpo e do espaço, também próprio, que sacia a alma.